Carolina Santiago: emprestar foi mesmo o melhor
Avançada do Sporting, está a realizar grande época na Liga BPI ao serviço do Valadares Gaia. Estará no EURO 2025 com a seleção sub-19. Outras jovens jogadoras em destaque no campeonato
Organizar uma competição é um trabalho apaixonante para quem gosta de desporto.
Tudo começa com o propósito: esta competição serve para quê? Respondida essa questão, procura-se a fórmula que possa contribuir para o equilíbrio. O sonho de qualquer organizador é chegar à última jornada com todas as equipas em igualdade pontual para que o interesse e a competitividade sejam potenciados ao limite.
É raro que isso suceda, mas o objetivo é claro: equilíbrio, equilíbrio, equilíbrio.
Se o formato só por si resolvesse tudo seria razoavelmente simples, mas como sabemos existem diversas outras variáveis.
No caso do futebol feminino, a equação é ainda mais complexa.
Na última década, o campeonato principal assistiu à chegada de clubes profissionais e o formato precisou de ser diversas vezes adaptado. Por causa do impacto do covid, mas também para garantir que a competitividade era incentivada.
O vencedor é o mesmo há cinco temporadas e o último classificado não tem qualquer ponto, mas na época 2024/25 houve alguns sinais de equilíbrio, apesar da diferença de orçamentos. Este sábado, por exemplo, o Valadares Gaia esteve a vencer o Benfica no Seixal e acabou por empatar 2-2 na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal. Minutos depois, o Torrense ganhou por 3-0 ao Sporting de Braga.
Além do equilíbrio, o futebol feminino exige que se pense também no ambiente certo para o desenvolvimento da jogadora portuguesa. O número de atletas cresceu muito na última década, mas a quantidade de qualidade necessária para abastecer as seleções nacionais ainda não é a ideal.
Neste contexto, é crucial permitir aos clubes que contratem jogadoras estrangeiras com a qualidade e maturidade suficientes para tornar a prova equilibrada e competir na UEFA. Mas, ao mesmo tempo, é fundamental encontrar espaço na Liga BPI para as futebolistas entre os 17 e os 20 anos. Até porque a segunda divisão só será um local interessante para o desenvolvimento em 2030, se a progressão e investimento se mantiverem.
Quem empresta não melhora?
A FPF decidiu impor sempre um limite de jogadoras não formadas localmente e incentivou os clubes com melhor formação a emprestar futebolistas a outros emblemas.
Para emprestar uma jovem jogadora, o clube que cede precisa de confiar nas condições de trabalho de quem recebe, na qualidade técnica e acompanhamento clínico e na qualificação do restante plantel. É melhor deixá-la ir e vê-la somar minutos ou deve ficar, treinar todos os dias com jogadoras mais maduras e jogar um pouco menos? A pergunta tem respostas distintas.
Na recente seleção sub-19 que se apurou para o EURO2025 encontramos quatro avançadas importantes para Marisa Gomes, e com potencial, que tiveram percursos diferentes esta época. Todas têm 18 anos.
Carolina Santiago foi emprestada pelo Sporting ao Valadares Gaia e a opção não podia ter sido mais feliz. O clube de Zé Nando ocupa a quarta posição na Liga BPI e vai discutir até ao fim o acesso à final da Taça de Portugal. A jovem avançada tem sido utilizada com regularidade, soma 1620 minutos, 11 golos e 3 assistências.
Maísa Correia ficou em Alcochete e tem jogado bem menos, embora tal se deva, também, a lesões. Tem 469 minutos e cinco golos.
No Benfica, Lara Martins é presença assídua no banco e leva 664 minutos e 6 golos.
Também no Seixal, Neide Guedes tem 1279 minutos e 7 golos, mas anda muito pelo Benfica B, no escalão secundário.
É difícil dizer se foi bom para as últimas três ficar junto das equipas principais de Sporting e Benfica, mas não há dúvidas de que Carolina Santiago se afirmou plenamente e é hoje uma jogadora capaz de competir com as melhores. Neste caso, emprestar foi ótimo.
Com seis golos na Liga BPI, Carolina Santiago é a mais jovem marcadora da competição e a segunda melhor da sua equipa, o que não deixa de ser notável aos 18 anos. Nas seleções de formação já leva 38 jogos e é presença assídua na Cidade do Futebol desde 2022.
Para bem do futebol português, esta tem sido uma época de afirmação para outras jovens, quase todas provenientes dos principais clubes formadores, mas hoje ao serviço de emblemas do meio da tabela.
Eis a lista de jogadoras portuguesas até aos 23 anos com mais minutos na Liga BPI. Várias já passaram por seleções jovens:
Adriana Rocha (Estoril): 1710
Carolina Correia (Torreense): 1674
Mafalda Nunes (Famalicão): 1638
Marta Ferreira (Racing Power): 1590
Inês Matos (Damaiense): 1581
Rita Dias (Famalicão): 1564
Beatriz Pinheiro (Vilaverdense): 1559
Maria Rodrigues (Albergaria): 1558.
Destaque ainda para nomes como Joana Silva (Marítimo), Inês Barge (Valadares), Érica Ventura (com quase 2000 minutos no total, cedida ao Valadares Gaia, tem 21 anos), Daniela Santos (cedida ao Estoril, 21 anos), Beatriz Barbosa (Valadares Gaia) e Bruna Ramos (Torreense, apenas 20 anos).
Para estas jogadoras e para mais algumas dezenas que esta temporada competiram na formação ou nas equipas B, as próximas duas épocas serão muito importantes, até porque a Liga BPI só terá dez equipas.
Com percursos assinaláveis nas seleções de formação, nomes como Érica Cancelinha, Inês Meninas, Ana Filipa Ribeiro, Marta Gago, Mafalda Mariano e Rita Almeida estão a bater à porta da Liga BPI, que precisa de encontrar o lugar certo para as potenciar.